Thadeu Aguiar

Talento, sorte, determinação e capacidade de superação são alguns dos fatores que formam um “campeão”. No esporte, muitos atletas ainda contam com um importante trunfo para brilhar. São três letras decisivas para deixá-los mais fortes, rápidos e confiantes. Chama-se “mãe”. Em Santos, muitos dos vitoriosos atletas da Fundação Pró-Esporte (Fupes) têm a mãe como aliada em suas carreiras promissoras ou de sucesso. Elas não aparecem nas fotos, mas são o suporte para conduzir os filhos ao lugar mais alto do pódio. Mais do que a presença em treinos e competições, elas são o porto seguro, a inspiração, o incentivo dos esportistas, mesmo diante de tantos desafios e frustrações. Nesta série especial de Dia das Mães, o Santos Portal conta algumas dessas histórias

Ser mãe de um jovem e dedicado atleta, mais precisamente Nathan Torquato, campeão paralímpico de taekwondo, da Fundação Pró-Esportes de Santos (Fupes), deve ser motivo de muito orgulho. Mas, ainda bem que Rose Sodário é uma amante da prática esportiva, porque o coração precisa estar bem saudável para esta maternidade. Para ter ideia disso, confira apenas três situações vividas nesta trajetória:

Em 2014, Nathan, que nasceu com má formação no braço esquerdo, conquistou classificação para defender o Brasil no Mundial de Taekwondo Convencional, em Baku, no Azerbaijão. Chegando lá, foi vetado de participar da competição devido à sua deficiência. Dá pra sentir a revolta vivida pela Rose?

Em 2021, ele conquistou o ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, sendo o primeiro campeão paralímpico da história da modalidade. Ele também foi eleito o melhor atleta de parataekwondo do mundo em 2022. Foi recebido em Santos com direito a desfile no carro do Corpo de Bombeiros. Pode mensurar o orgulho?

Em 2024, pela televisão, ela acompanhava o filho fazendo bela campanha em busca do bicampeonato paralímpico em Paris, até vê-lo sofrer uma grave lesão no joelho durante a semifinal, tendo que sair carregado, chorando e sendo cortado da disputa do bronze. Consegue imaginar a preocupação?

MÃE JÁ TINHA NA CABEÇA QUE FILHO PRATICARIA ESPORTE

Mas, como já foi dito, Rose já tinha na cabeça, antes de seus filhos nascerem, que os colocaria em algum tipo de luta para poderem se defender. Mesmo não conhecendo o esporte, a escolha de Nathan aos 3 anos pelo taekwondo facilitou a vida da mãe. “Fiquei um pouco receosa e apreensiva de como ele iria se adaptar, não sabia que se utilizava mais os pés”. Ela não pensou nem que ele desistiria rápido, nem que se transformaria em um atleta profissional. “Meu foco era somente que ele praticasse uma atividade física e aprendesse a se defender caso precisasse algum dia”.

Rose começou a observar Nathan com outros olhos quando ele foi para a primeira competição. “Percebi como ele era determinado, não desistia, pelo contrário, utilizava as derrotas como aprendizado e nas vitórias procurava algo para melhorar e se aperfeiçoar”.  A mãe percebeu o dom do futuro melhor do mundo e passou a encarar os desafios da vida esportiva do filho.

DESAFIOS: "NUNCA DESISTIMOS, TUDO DEU CERTO NO MOMENTO CERTO"

“Sempre precisávamos arrumar um jeito de conseguir verbas, com rifas, amigos comerciantes, pedágios nos faróis. Era um desafio ter o dinheiro da inscrição no campeonato, transporte e alimentação. Dormíamos algumas vezes no aeroporto por conta de chegar em horário que não tinha mais ônibus para a Baixada. Mas nunca desistimos, tudo deu certo e no momento certo”.

A MAIOR DECEPÇÃO

O talento e a determinação superaram qualquer deficiência e logo Nathan se destacou no taekwondo convencional, se tornando o líder do ranking brasileiro na sua categoria e garantindo vaga para o Mundial de Cadetes. E foi aí que sofreu a sua maior decepção no esporte. Ele classificou para o Mundial no Azerbaijão, fez apresentações no semáforo para arrecadar dinheiro para viajar e foi impedido de lutar por ser deficiente físico. A verdade é que nunca um paratleta tinha chegado tão longe e o que podia ser motivo de desistência, serviu como impulso. “Foi decepcionante. Não imaginei que pudesse acontecer dele ser impedido de lutar”, diz a mãe.

NATHAN COMEÇA A BRILHAR PELO MUNDO

A partir de 2017, Nathan começou a brilhar no circuito paralímpico. Foram sequências de campeonatos brasileiros, Parapanamericanos, além do ouro no Open do Egito, de Las Vegas, da Austrália e dos Jogos Pan Americanos de Lima, no Peru. Em março de 2020, veio a vaga para Tóquio após vencer o Qualificatório das Américas, na Costa Rica. O lutador da Fupes usou a pandemia para intensificar sua preparação.

No dia 6 de setembro de 2021, Nathan chega em Santos após faturar a primeira medalha de ouro da história do taekwondo em Jogos Paralímpicos. Com direito a desfile em caminhão do Corpo de Bombeiros pelas ruas, se transformou em orgulho da Cidade, com uma recepção digna de herói olímpico.

Mesmo com o aumento do limite de peso de sua categoria, de 61kg para 63kg, foi bronze no Mundial de Istambul. Em abril de 2022, ouro no Pan no Rio de Janeiro, prata no Grand Prix da Bulgária e de Paris, o ouro no Pan Am Series III, em SP, o bronze no Grand Prix de Manchester, na Inglaterra, e a prata na Arábia Saudita. Em 2023, bronze no Campeonato em Veracruz, no México, ouro no Parapan em Santiago, no Chile. Ele se manteve durante todo o ciclo olímpico entre os melhores do mundo e chegou em Paris com favoritismo. Foi avassalador até a semifinal, quando sofreu a lesão.

EM PARIS, UM DOS PIORES MOMENTOS DA VIDA

A mãe diz que foi um dos piores momentos da vida por não ter notícias do que havia acontecido. “De uma coisa eu tinha certeza, era algo grave que realmente havia impossibilitado ele de prosseguir na competição, porque senão jamais desistiria. Ele treinou intensamente para o Parapan, mesmo com o escafóide quebrado, e mesmo assim ele foi buscar o ouro”.

SENTIMENTO DE DEVER CUMPRIDO

Nathan ainda tem uma longa e promissora carreira pela frente, mas a mãe já tem o sentimento de dever cumprido. Ela por ter corrido atrás do que fosse preciso e ele por nunca ter desistido, apesar de todos os imprevistos.  “Orgulho máximo de tudo que ele representa para o Brasil. Além de ser um excelente atleta, é um excelente filho, aluno na faculdade, e a determinação e força de vontade para conseguir tudo aquilo que sonho. Meu sonho será sempre vê-lo conquistar seus sonhos”.

A mãe também é “boa de briga”, praticante de muay thai. “Já pratiquei futebol de campo, futsal, futevôlei. Eu queria praticar alguma arte marcial, mas não optei pelo taekwondo porque tenho muita dificuldade em virar o pé para chutar. Acabei me encontrando, sempre pensando na qualidade de vida”.

ROSE: A DEFINAÇÃO DA MÃE DE UM CAMPEÃO

Nathan é só amor e gratidão. As palavras de Rose Sodário tornam possível dizer que ela nasceu para ser mãe de um campeão. "A importância da minha mãe na minha carreira foi gigante, pois não é fácil viver do esporte. Ter tido uma mãe que viveu esse sonho junto comigo e me apoiou incondicionalmente desde o primeiro segundo, torna inegável dizer que cheguei tão longe por conta dela. Vim de uma família simples financeiramente, mas que me deu algo muito mais valioso que dinheiro, que foi o seu amor e o apoio em busca do meu sonho”, disse o campeão paralímpico.